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6 de jun. de 2009

Billie Rubina




Billie era dessas garotas que não esquecemos nunca mais. Tinha uma risada gostosa e andar sinuoso e ria ainda mais, quando percebia que prendia olhos com seus quadris. Billie só gostava de caras maus e perigosos. Andava nas garupas de motocicletas envenenadas de shortinho e mini-blusa, fumando com sua boca carnuda e olhar que de tão ingênuo chegava a ser pernicioso.

A voz rouca cantava alto enquanto pintava as unhas dos pés com o disco na vitrola no volume máximo. Ah, ela sabia o que causava. Brigas, confusões, ataques de ciúmes, violência. Ela gostava de ser agarrada pelos cabelos da nuca por seu garoto mau e apertada contra a parede com palavras rudes ditas num hálito masculino e etílico em sua orelha; gostava de acordar e ver aquelas marcas em sua pele; arrepiava o bico dos seios e se sentia a mulher mais mulher que já pisou na Terra.

Billie gostava de beber até tarde e dormir quando amanhecia. Não havia horários para ela e tudo era dividido simplesmente em dias e noites. E eram as noites que ela mais ansiosamente aguardava! O dia passava preguiçoso, apenas para sua preparação para a próxima aparição na noite enfumaçada de um bar qualquer. Ali ela sabia, seus olhos brilhavam mais, sua pele ficava mais acetinada pela luz suave, sua boca mais vermelha e seu corpo mais sexy do que qualquer uma que lá estivesse.

Billie se embriagava imaginando que poderia ser como uma vamp de capa de revista, de pernas longilíneas e olhar sedutor. Queria viver uma cena de filme noir todas as noites. Beijar todos os homens e imaginar que todos eles lhe pertenciam para no final, mandá-los embora feito cachorrinhos.

Secretamente, ela aguardava um em especial, que entraria pelo bar com um cigarro no canto da boca, vestindo uma capa de chuva e tirando o chapéu, a olharia diretamente nos olhos, dizendo “todo mundo é idiota de alguém”* e a tomaria nos braços, com beijos inebriantes.
Mas, quando Billie Rubina acordou, já havia passado tanto tempo e ninguém a procurou em bar algum e suas pernas, bem como seu traseiro, já não eram mais como antigamente. Seu olhar já estava amarelado e puxa, estava urinando feito chá preto!

Billie já não cantava tão alto e decidiu que não esperaria por seu homem, ele não viria. E mesmo que viesse, por Deus, ele não a beijaria com esse dente faltando! Billie se olhou novamente no espelho do banheiro, limpando com a mão o vapor d’água. Suas mãos estavam tão envelhecidas, as unhas descascadas. Bem, a esclera já estava mais branca, podia sair e tomar alguma coisinha por aí. Afinal, sempre tem um homem solitário precisando de uma mulher, mesmo que ela seja amarela.

* Frase de Orson Welles, no filme “A dama de Shangai”, de 1947.
** Bilirrubina: Pigmento amarelo-esverdeado excretado pela bile.

2 comentários:

  1. Gostei do trocadilho com o nome da personagem..

    Beijos Guria...

    Pulguita...(até que enfim consegui entrar no seu blog)

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  2. beleza de texto. Gostei muito.
    parabéns!

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