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13 de jun. de 2010

Assumpção

Tem umas que entram e nem me enxergam. Já estou acostumada e até as prefiro. Insuportáveis são as que medem de cima a baixo, do alto de seus peep toes e fico imaginando seus intestinos cheios de comida em decomposição.

“Qual o andar, senhora?”

“Oitavo.”

Mas, as crianças...Sentam no meu lugar, arrancam meu quepe e querem brincar de ascensorista, gritando em ataques histéricos, uns demônios.

E eu lá, cabelo engosmado de gel, suéter puído, meio sorriso pra não aparecer a droga do pivô faltando.

Tem também os fedidos de perfume, de sovaco, mau hálito, porra. Empesteia tudo, pior que cheiro de cabelo pós-balada.

Namoradinhos me enojam, igualmente. Aquelas vozezinhas num semitom sussurrante, meladas em frases açucaradas não me deixam alternativa senão imaginar qual deles eu deixaria a cabeça trancada na porta, primeiro. Esse pensamento me alivia.

Velhotes tarados, solteironas feiosas, comentários sobre o tempo e o Seu Antero, da barbearia.

Todo dia, pontualmente às 9, ele e seu jornal, amarrotado na página policial, quase sempre com respingo de café que ele toma correndo no boteco da esquina.

Pigarreia, ajeita os óculos no nariz, faz cara de seriedade e comenta, me olhando por cima dos aros “Quando eu penso que já vi de tudo...”

Apenas concordo, sorrindo tristemente.

“Já é a quarta pessoa encontrada assassinada do mesmo jeito...Nossa polícia é um fiasco...” Sai, balançando a cabeça, desconsolado.

Alguém chama no subsolo e vejo no relógio que mais um dia de trabalho está chegando ao fim. Passo os dedos pela navalha na cinta-liga. Estou louca para ver a cara do Seu Antero, amanhã.

Um comentário:

  1. hahahaha..cara..essa foi boa mesmo!!! fazia tempo que nao lia um texto rapido e inteligente..bjs dna she

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