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24 de jun. de 2012

Código 5198


Dizem que é a mais antiga das profissões e além desse ponto de vista, apesar de todo preconceito, toda a hipocrisia da sociedade, é uma profissão indispensável.
O sexo é uma das principais necessidades vitais, juntamente com a alimentação, a água e o próprio oxigênio.
A natureza sobretudo selvagem, egoísta e marcial da humanidade tem no sexo, uma expiação. E ali que o guerreiro lava sua alma, dá sua última gota de suor e tomba, satisfeito. E ao mesmo tempo, como diz aquela expressão latina “Omne animal post coitum triste praeter gallum mulieremque”, a melancolia pós-coito; à exceção dos galos e das mulheres, pois não.
A profissão passou por diferentes fases no decorrer da história, tendo momentos de picos de glamour e até espiritualidade. Porém, hoje em dia, embora seja tremendamente explorada é, talvez, a época em que mais a sociedade faz de conta que não a vê e torce o nariz para a violência na qual ela está sendo consumida.
As pessoas, homens, mulheres e crianças, que vivem da transação de seu corpo é vítima do ódio, do preconceito, dos maus-tratos e do descaso. Tanto a pornografia, mundialmente distribuída através de filmes, vídeos caseiros e pela internet vampirizam essas pessoas ao mesmo tempo em que alimentam a indústria que as usam da forma mais sórdida.
O casalzinho classe média que assiste àquele filme erótico no conforto de sua sala de estar para esquentar as suas noites mornas não tem ideia do que há por trás daquelas cenas, aliás, raramente sabemos o que há por trás, estupros, cárcere privado, tráfico de mulheres, pedofilia, assassinato...
Deixando de lado o duplo sentido de algumas palavras, o que me refiro é algo muito importante. Mesmo estando lá, na Classificação Brasileira de Ocupação,  sob o código geral 5198 “Profissionais do Sexo” e com um texto pra lá de surreal, não é dado nenhum benefício previdenciário à categoria.
Essas pessoas trabalham a vida toda, a margem da sociedade. São agredidas, e não têm direito, na prática, de uma proteção do Estado, jurídica ou policial. Assistência médica, auxílio-doença, aposentadoria. Nada.
Apenas as usamos e jogamos fora, como o preservativo – que alías, muitas vezes, elas são espancadas por se recusarem a não usar por um cliente, cidadão responsável, pai de família, com sua bela esposa, filhos, emprego decente e carro na garagem.
Esse não é um texto de promoção da prostituição. O que me repugna é esse preconceito cheio de ódio e hipocrisia que cada vez mais enche miolos ocos.
Vamos parar para pensar sobre como vivemos e mudar velhos hábitos, paradigmas e olhar para as mazelas da vida não de cima para baixo, mas para o lado.

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