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29 de jul. de 2008

Galeria de lixo


Dias de chuva são sempre complicados. As pessoas ficam mais nervosas, ansiosas, o trânsito enlouquece, enquanto caminho pelas ruas, repletas de alagamentos, sacos de lixo boiando nas calçadas, cigarros, camisinhas usadas - que bom que ainda usam - caixas de remédios, anti-depressivos, neurastênicos. E rapazes sendo pegos em pleno ato de furto, semi-nus, com a bota de alguém em sua cara suja esfregando o chão molhado e podre da avenida. Talvez fosse para comprar mais daquelas malditas pedras ou quem sabe, ele queria descolar uma grana pro cigarro. Alguma coisa para tirar da realidade e o gosto de barro da bota esmagando o maxilar. Alguma coisa que faça esquecer a cara de reprovação dos transeuntes e seus guarda-chuvas e dos olhos de raiva do proprietário do bem roubado. O ser humano é muito engraçado, enquanto está numa posição que lhe é confortável é muito fácil apontar seu dedo cínico e mandar decapitar àqueles que estão "errados". Mas esse mesmo dedo hipócrita em sua posição confortável pode fazer tanta podridão escondido e no entanto, ele aponta sem nenhum constrangimento. Qualquer dedo pode apertar um gatilho. Somos feitos do mesmo barro. Como aquele da sola da bota esmagando o maxilar do rapaz deitado, semi-nu na calçada.

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