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6 de fev. de 2009

Da janela



São cinco da tarde e o sol de verão faz as crianças correrem e corarem na verde praça em frente. Pessoas sentam nas suas cadeiras coloridas com cachorros de estimação, em conversas animadas sobre os vizinhos ou artistas da televisão.
O céu, de um azul pálido e escassas nuvens, promete uma chuva de fim de tarde, daquelas boas que pedem um banho de chuva na calçada, como eu fazia, quando era criança também.
Cresci pensando na exclusividade, na especialidade de ser eu mesma. Ninguém em todo o universo, presente ou passado, era igual.
Mas, agora, olhando da janela essa tarde de verão tão pulsante de vida, não acredito mais nisso.
Sou tão igual e tão menos do que pensava. Nada me diferencia, estupidez, mediocridade ou gentileza. Nenhum atributo físico surpreendente, nenhuma habilidade fantástica, nem íris ou impressão digital. Na calculadora da vida, nada me distingue dos demais, nem zero à direita ou à esquerda.
Singularidades não me convencem mais. Nem declarações de amor; nem filmes de terror.
Quando fico só, como agora, olhando pela janela, algo me toca. Talvez um espírito melancólico sussurre aos ouvidos uma cantiga morta.
E nem mesmo o sol em toda sua luminescência espanta os morcegos que em mim habitam.



Imagem: "Pessoa na janela", Salvador Dali

Um comentário:

  1. Somos iguais e menos. E quando algum de nós, de repente, descobre sem querer como ser mais e único, alguma coisa acontece e aborta a missão... é... tarde verão.

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