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1 de abr. de 2009

Impostora

Retira com um lenço úmido em frente ao espelho o batom vermelho escuro. Vai se despindo aos poucos, descobrindo com olhar curioso a carne branca e coberta pelo tecido, revelando curvas, cores, marcas. Fecha os olhos e sente a água descer ligeira pelo corpo, levando o suor e o perfume. É quase uma inquilina de si mesmo. Não está aberta à visitação, seus restos estão guardados num baú, no calabouço da alma. Dispõem de closets com uma gama de divisórias infindável. Veste a peça apropriada para cada ocasião. Tem o tamanho certo do sorriso, a iluminação perfeita do olhar, a cor certa do movimento.
Chega a sentir raiva de si mesmo em ver que todos acreditam, todos esperam exatamente aquilo, sem novidades, sem sair da normalidade. Atores medíocres e seus scripts decorados, sem improvisações ou livre adaptação. Adivinha a próxima fala. É sempre assim.
Algumas vezes, diz exatamente o que querem ouvir. Outras, diz o contrário, para ver a reação. Diverte-se com isso. Até que cansa e acaba a brincadeira. Cospe fogo pela boca numa pirofagia vesuviana.
Então, solidifica. Vira poeira. Até os átomos formarem novamente a próxima personagem.

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