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5 de nov. de 2009

Notícia



Chegava a ser irritante pensar por que chovia torrencialmente sempre às 18 horas em ponto, justo quando ela não havia se preparado para tal evento metereológico. O rímel vagabundo diluía-se nas gotas d’água que aos poucos formavam bolsões sobre as maçãs do rosto, rígidas.
Apesar da chuva, agora, dentro do ônibus lotado, o clima era similar ao mormaço semi-árido, com cheiros misturados de pão, uréia e um pacote de salgadinhos. Concentrou-se num risco entre duas janelas, feito a pincel atômico: o que queriam dizer aquelas iniciais?
Chegou no seu ponto e desceu correndo, suspirando fundo e não se atrevendo a olhar para trás, com um medo terrível de se transformar em uma estátua de sal e ficar ali para sempre.
Faltavam apenas duas quadras, já estava chegando! Apertou a campainha, impaciente, limpando a roupa, ajeitando um pouco o cabelo em desalinho, através do alumínio da beirada do elevador.

- Oi.
- Oi.

Ele cumprimentou e nem esperou para fechar a porta, como se não tivesse passado tanto tempo, como se vissem sempre, como se.

- Tudo bem?
- Ah, sempre a mesma coisa, você sabe, aquelas dores, insônia, coisas de velho, minha filha...inclusive eu...
- Pai, tenho uma novidade...
- Ah é?
- Lembra aquele estágio que eu comentei com o senhor, naquele estúdio? Então, eu consegui! Eu...
- É remunerado?
- Não, mas...
- Ah, minha filha, já sabia, essas coisas de arte não dão dinheiro, já te disse, faz outro curso. Agora, pega lá na varanda meu jornal que eu estou com uma dor nesse meu pé que está me matando...



Crying in the rain...

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