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8 de abr. de 2011

Dei-te minha carne, para que desenhasses nela, como te convinha, baixo e alto-relevo pelas minhas costas, removendo montes, cortando caminhos. Dei-te meu sangue, para que provasse dele e não perdesse a vida, engendrada em meu ventre, esse mesmo que agora enfia tuas garras e retira todas as pedras de meus rins. Dei-te meu suor e meu prazer, toda euforia e loucura que precisavas em poucos segundos, enquanto observava em silêncio, arruinares todas minhas esperanças, uma a uma.
E quando me rebelo, num monólogo rodrigueano, cospes em meu rosto minha culpa e despeja em minha cabeça sentença de morte. Altera meu paladar, muda meu foco, desvirtua meus ouvidos, arranca minha pele morfética.
Desdenha de onde fostes formado, de onde te aquece, sente vergonha da origem, pensa que vem das estrelas. Não se dá conta de tua insignificância, inutilidade, que é totalmente dispensável debaixo do Sol.
De vez em quando, atrás de tuas tentativas filosóficas onde buscas sôfrego por um conceito que faça sentido, descobre a solidão de conviver com esse poço sem fundo trancado na garganta, as verdades em nadir e os sonhos perdidos no zênite.

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