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3 de jul. de 2008

Missiva à Vlad III

Antigas lendas romenas contam que, em meados de 1476, encontrou-se num monastério já abandonado, aos pés dos Alpes da Transilvânea, uma estranha carta endereçada à Vlad Tepes Draculea, príncipe da Valáquia, sem assinatura de remetente.

31 de maio de 56.
(Sopra um vento muito frio aqui...)
Querido Vlad,
Em tua pele, sinto o perfume nefasto da morte. E de teus lábios, evapora o gosto amargo do sangue. Teus olhos são negros como a noite, e ás vezes, me fitam frios como as trevas. Teu ar é gélido e teu andar furtivo, como a lua cheia. Uma beleza cor de cera, que me embriaga e alucina Quando tua fome vital sacia, voltas ao teu funesto e diabólico repouso. Eterno morcego das madrugadas, esconde-se nas sombras desenhadas pelas velas nos castiçais. E da luz da aurora foges. O Sol é teu grande e ameaçador inimigo.
Oh, meu pobre príncipe! No interior do teu castelo, sombrio e silencioso, vives solitário. A maldição que te acompanhas é tão imensa quanto todos os séculos dos séculos, e muito menor do que toda a dor, cólera e desolação.
Quem o poderá livrar desta tortura? Querido, apenas o que te faz companhia, são as notas soturnas que tocas em teu decrépito cravo.
Meu tácito e plangente espectro! Não imaginas o que me dói por saber que nem mesmo tua augusta imagem podes ver refletida nos cacos que sobraram de todos os espelhos que quebrastes. Qual foi a áspede que lhe envenenou desta forma tão cruel e insana?
Vlad, embora o medo que sinta percorra e invada todos os meus poros, espero e desejo teu lúgubre ósculo. Porque o lume que nos une é maior que todo este suplício que nos envolve e afasta. Porque o amor que nos atrai é maior do que a vida, e mais forte do que a própria morte!

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