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2 de jul. de 2008

O dia em que suicidei

Estava à beira do precipício. E quando lá cheguei, sabia que uma hora tinha que saltar, não poderia voltar atrás, jamais! Isso eu não admitiria.
Fui escorregando os dedos dos pés, assim, devagar a ponto de ouvir o ruído dos grãos de areia sob o solado dos meus sapatos, se desfazendo e rolando, lá para baixo. Gradativamente, como eu, aos pedaços. Primeiro o sangue escorrendo em filetes, depois as unhas apodrecendo, maços de cabelos, tudo, caindo.
Há coisas que criamos, acrescentamos mais coisas a elas no correr do tempo, depois pegamos tudo, rasgamos e jogamos no lixo. Há coisas que grudam, mancham, maculam e outras que limpam, refrescam, sopram as escoriações e tratam dos hematomas.
E há, nisso tudo, uma obsessão por ver o fim. De pular o último degrau. De ver como é o impacto da queda. De querer rir com o sangue escorrendo do nariz e sentir o gosto de ferro e imbecilidade.
Depois do fim, não há mais nada. Os leprosos continuam se desmanchando, os pastéis fritando, os mosquitos se reproduzindo.
Nada pára. A não ser seu próprio pulso...pulso...pulso.


* In memoriam a 'Obscure Side'.

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