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18 de jul. de 2008

Conto Ficção Científica 1: Liberdade



Poison Apple, aguardava ansiosa por Black_doll, no buncker* do Chaos Club. Transitava em dois mundos paralelos de forma tão rápida e febril que não fazia mais distinção entre um e outro. Tanto, que usava óculos escuros em um ambiente destorcido, esfumaçado, fora de foco. Cópias mal-feitas e medíocres de quadros de Van Gogh , Picasso, pendurados na parede ao seu lado. Bebeu mais um gole da “fada verde” e balbuciou o que lembrava de um poema de Wilde:

“Após o primeiro cálice... após o segundo cálice...e, finalmente...é ainda mais...”

Sim, poison_apple era um hacker. No entanto, sua alma era incomodamente romântica demais, idealista demais, perfeccionista demais. O dinheiro nunca havia sido o fim, apenas uma conseqüência. Sentia prazer quase carnal em deflorar sistemas impenetráveis. Em corromper o que ninguém se atrevia. A desaparecer na hora exata, sem deixar vestígios.
A batida eletrônica e samplers do dark trance amorfinavam seus músculos. Envolvida naquele ambiente de candelabros e cortinas vermelhas, onde seres vestidos dos materiais mais inusitados e cores fluorescentes perambulavam nas sombras, bebia mais um gole de absinto e pensava. Fora convocada por Blackdoll para invadir o sistema de um laboratório federal: experimentos híbridos.
Do meio da atmosfera brumosa, surgiu uma figura estonteante. Devia ter 1m90cm de altura, sem contar a plataforma e estava vestida em algo que lembrava Vampirella**, muitas fivelas e zippers. Sorriu e sentou-se à sua frente. Guturalmente, falou:
O esplendor da Revolução Industrial foi aclamado com muito Absinto. Faremos um brinde, então, à Revolução Cibernética! – serviu-se de um gole generoso.
Depois de três meses, finalmente conhecia seu contato. Então, ela, na verdade, era Ele, um drag exuberante. Blackdoll copiou o arquivo e beijou-lhe a boca. Poison Apple foi embora com aquele gosto de anis e um maço de notas displicentemente jogadas no bolso de sua jaqueta.
Mas, ninguém imaginava como ela podia entrar de forma perfeita nos sistemas mais intrincados. Lembrou-se daquela noite, há três anos, mais uma vez. Gothic rock, gothic lolita, absinto, armadilha. Acordou com uma ressaca estúpida e chips implantados na cabeça, de maneira irremediável. Fazia parte do sistema, e no entanto, queria destruí-lo. Não passava de uma experiência que se rebelara, uma versão moderna de Frankstein. E como ele, buscava sua identidade. A bio-ética é uma farsa. A liberdade é apenas o avesso do torpor. Tombou, lindamente, no tapete da sala de seu kitnet frio e sujo, da barulhenta St. Pauls Avenue.

*Buncker: porão.
*Vampirella: Personagem criado em 1969, por Forrest J. Ackermann.

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